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Sexualidade & LGBTQIAPN+

Dominando a Diversidade de Gênero de Modo Descomplicado

Maira Reis
Escrito por Maira Reis em 23 de novembro de 2019
10 min de leitura
Dominando a Diversidade de Gênero de Modo Descomplicado
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Rafa é uma pessoa que se identifica como pansexual, intersexo e queer. Ou seja, essa pessoa “está dentro” de pilares da diversidade de gênero, orientação afetiva-sexual e corpo e sexo.

Você sabe exatamente o que significa tudo isso? E o que isso tem a ver com a diversidade de gênero?

Entendo que o dicionário LGBT+ é, muitas vezes, uma sopa de letrinhas e pode até te deixar confuso / confusa.

Então vamos decodificar todo esse universo para que você entenda de uma forma simples e fácil as siglas desse universo colorido.

A primeira coisa que você precisa entender é que fomos criados em uma sociedade que desenvolve o nosso olhar para vermos o mundo por um viés cisgênero e heterossexual – infelizmente…

Ou seja, por intermédio de um olhar de quem nasceu e se identifica biologicamente / mentalmente / no papel social de mulher ou homem cisgênero.

E mantém relacionamentos e vivências com o gênero oposto àquele que se reconhece: homens se relacionam com mulheres, transgêneros ou cisgêneros, e vice-versa.

A definição de cisgênero é:

O indivíduo que se identifica com o gênero que nasceu e o mantém essa identificação / papel social ao longo da sua vida.

A definição contrário a de cisgênero é transgênero.

E vamos, logo mais, nos aprofundar na questão das pessoas transgênero (também chamadas de pessoas trans) ou só transgêneros – sem precisar do uso da palavra “pessoas” quando se fala em “transgênero”.

Ah, precisamos fazer uma breve explicação sobre a diferença entre gênero e sexo. E sim, não são as mesmas coisas. Sequer o que tem a ver com diversidade de gênero – o foco desse texto.

Vamos a ela logo abaixo!

Para começar, vamos entender o que é exatamente o mundo drag.

Drag Queen / Drag King: Uma Representação Artística dos Papeis Sociais

o que é drag queen e drag king

A imagem acima é a melhor representação que encontrei, até hoje, para começarmos a entender, de modo simples e direto, algumas das diversidades que compõem uma pessoa.

Ser drag é desenvolver uma representação artística de determinado papel social e de gênero.

Muitas pessoas também falam que é um tipo de homenagem seja pela figura feminina (então chamamos de A drag queen) ou pela figura masculina (denominamos de O drag king).

Particularmente, gosto de denominar como uma forma de performar artisticamente / esteticamente e, em alguns casos, até criticar os papeis sociais de beleza, de gênero e de estética existentes.

Para entender melhor tudo isso, assista esse vídeo da Revista Época com a Lia Clark, uma drag queen que volta o seu trabalho ao universo do funk:

Vale lembrar que uma drag queen e/ou um drag king não fazem o processo de readequação de gênero (definiremos esse conceito mais abaixo), mas sim leva essa homenagem artística aos gêneros como um tipo de trabalho (sim, na maioria das vezes, drag queen ou drag king mantém as suas performances como drag como uma forma de remuneração).

Um exemplo claro é a Pablo Vittar.

A Pablo Vittar é um homem cisgênero, gay que, quando está no palco, “se monta” (se veste para representar a sua personagem, no caso de uma drag queen) a partir de papel de uma mulher e assim exerce a sua arte (cantar, dançar e se apresentar).

Veja essa entrevista do Pablo, que não está montada, para a BBC News Brasil, sobre o seu trabalho e como ele começou a se montar:

Diante de tudo isso, precisamos entender que uma pessoa que se monta (seja como uma drag queen ou um drag king) não quer dizer que ela é uma pessoa trans – pode ser que ela seja como também não seja.

Um outro exemplo claro é a própria Pablo que não se reconhece como uma mulher trans, mas, como já dito, um homem gay e cisgênero.

Ou seja, o fato dele ser gay (que representa a sua orientação afetiva-sexual) não tem nada a ver com ser cisgênero (a sua identidade de gênero) e sequer com o fato de se montar como drag queen (aqui é a sua representação artística que acabou virando a sua profissão).

Lembrando que se montar de drag queen ou drag king não necessariamente a pessoa faz disso uma profissão – pode ser que ela faça como pode ser que não faça. O que realmente importa é ela querer se montar e representar um papel por intermédio da sua peformance.

E um fato que é importante ressaltar é que se você é um homem ou uma mulher cisgênero e heterossexual, você pode SIM se montar seja como uma drag queen ou um drag king.

Não existe uma regra em que diz que só LGBT+s podem se montar e fazer essas representações artísticas.

Por outro lado, no reality show RuPaul’s Drag Race, que tem o foco de encontrar a drag queen que tem carisma, singularidade, coragem e talento para receber o título de “America’s Next Drag Superstar”, já teve participação de mulher trans.

Conheça algumas delas:

Portanto ao entender que uma drag queen ou um drag king é uma forma de representação artística, você deixa de lado as questões de identidade de gênero, expressão de gênero, orientação afetiva-sexual e entende o que aquela pessoa oferece ao mundo enquanto artista.

Agora, a identificação de como a pessoa quer ser vista / reconhecida pelo mundo, é o foco do nosso próximo assunto:

Identidade de Gênero: Como Você Quer ser Reconhecido / Reconhecida pelo Mundo

O que é Identidade de Gênero - Diversidade de Gênero

Ao longo da nossa vida, a partir de várias experiências, começamos a nos identificar ou não com aquele gênero que nos foi atribuído no nosso nascimento.

A sua identificação também nos traz alguns papeis sociais e direitos.

E, para algumas pessoas, no caso das pessoas trans, esse gênero foi atribuído de forma erradamente.

Logo o que está errado foi a designação, a atribuição. O corpo de uma pessoa trans está ótimo.

Vou explicar melhor:

Uma pessoa trans não nasceu no corpo errado, para ter um processo de “mudar de gênero” (expressão errada para se falar, viu!), mas sim nasceu em uma sociedade errada, que não aceita que esse indivíduo tenha os direitos sobre o próprio corpo.

Logo passa por um processo chamado “readequação de gênero” para que obtenha os papeis sociais e a identificação de gênero diferentes daqueles que lhes foram atribuídos no seu nascimento.

Uma observação importante:

Ao escrever pessoa trans, vemos que antes da palavra TRANS vem PESSOA.

O mesmo acontece com mulher trans e homem trans.

Entende que estamos falando de humanidade antes de identidade de gênero?

Entende também que se estamos falando de pessoas, então não há motivos para preconceito / transfobia?

O outro ser diferente de mim é lindo, pois me fazer estar aberta para romper os meus preconceitos transfóbicos.

É dessa forma que deveríamos pensar e nos colocar no mundo e não ficar com medo de quem é diferente de quem somos.

Voltando ao pensamento do texto:

Ao entender que o gênero é atribuído, elimina as falas erradíssimas: “nasceu no corpo errado”, “mudou de sexo” e “mudou de gênero”.

O correto a se falar é que a pessoa está passando por um processo de readequação de gênero e/ou, como pessoas trans gostam de falar, de transição de gênero.

E você também pode estar se questionando:

Então em qual momento, uma pessoa trans entende que a sua identidade é outra, que o corpo / identidade / papel social atual lhes foram atribuídos erradamente?

Não existe esse momento ápice. É o mesmo que perguntar para uma pessoa heterossexual:

Quando foi que você entendeu, por você mesma, que gostava de uma pessoa do gênero oposto ao seu?

É bem provável que você não tenha parado para refletir sobre isso, não é?

E tem mais…

Não é porque uma pessoa tem traços ou se veste de forma feminina, com a expressão de gênero de uma mulher, que ela é realmente se identifica com uma mulher – seja cisgênera ou transgênero.

É importante ressaltar que uma pessoa é cisgênera ou transgênero. E não os 2. Não existe pessoa cis trans. Ou é cis – cisgênero – ou é trans – transgênero.

Ou, ao contrário, não é porque ela se veste / tem traços masculinos, tendo uma expressão de gênero de um homem, que ela é um homem cisgênero ou transgênero.

A questão relacionada a expressão de gênero iremos aprofundar nela mais abaixo.

Antes disso, vamos entender exatamente o que é essa tal da teoria queer e o que ela tem a ver com o universo trans.

Teoria Queer: Quebrando os Padrões Sociais

Nos anos 80, tudo que não se enquadrava dentro da sigla GLS (gays, lésbicas e simpatizantes) era considerado queer.

A tradução da palavra “queer” naquela época era estranho, diferente, excêntrico, ou seja, pessoas que não seguem a heteronormatividade.

Ainda continuamos a usar a tradução de queer como estranho, diferente e excêntrico, porém de uma forma positiva.

É o mesmo processo que ocorreu com a palavra “bicha” em que, antigamente, tinha uma notação negativa e usada para desqualificar o gay, colocando em um patamar inferior aos demais da comunidade LGBT+.

Hoje, queer, é usado, digamos de forma positiva, significa:

Pessoa que rompe os padrões héteros-normativos e de gêneros construindo uma nova identidade, a queer.

E geralmente, não tem nada ligado a binaridade de gênero (homem ou mulher – seja cisgênero ou transgênero).

Em outras palavras, queer não é uma atribuição de um gênero – não se nasce queer, se identifica ao longo da sua vida assim como uma pessoa trans.

Toda essa definição é para a palavra queer enquanto identidade de gênero.

Mas ela não é só isso. Queer também tem um viés de estudo acadêmico.

Estudos da Teoria Queer & Judith Bulther: O que é Tudo Isso?

Também nos anos 80, temos um cenário horrível: a epidemia da Aids.

E os governos conservadores começaram a culpar a comunidade LGBT+ por alastrar a doença. Porém a nossa comunidade, mais uma vez, lutou contra essa imbecilidade e assim a Revolução Sexual, que começou em 1960, ganhou mais força.

A Revolução Sexual, também conhecida como Liberação Sexual, é um movimento que começou a ver as relações além “do padrão” heteronormativo e cisgênero.

Passeata Feminista

Dessa forma, trouxe as questão da contracepção e uso da pílula, nudez, normalização da homossexualidade e outras formas de relações afetivas-sexuais e a legalização do aborto.

Tudo isso começa a ganhar um debate e atenção da sociedade naquela época.

Diante desse movimento sociocultural, surge a teoria queer, que não é só algo oriundo dos Estados Unidos. Mas sim é um movimento de autores e autoras, de várias partes do mundo, que foram colaborando para a criação de um pensamento queer.

Os estudos / pensamentos queer têm descendência nos estudos feministas, realizados no século 18, e surgem fazendo uma crítica na questão de igualdade.

Você deve estar se perguntando:

– Maira, não entendi o que é esse estudo queer e o que ele estuda?

Pois bem, nós fomos “adestrados” a olhar para o mundo de maneira heterossexual e cisgênera como já disse acima.

E, mais recente, esse olhar se ampliou para a questão homossexual.

Logo os estudos queer dão ênfase a esse olhar generificado (de gênero) dentro das normas “socialmente aceitas”.

Ou sela, ele pergunta, por exemplo:

– Quem faz política e está no poder hoje?

A maior parte dos representantes que temos hoje, na Presidência do nosso país, no Congresso, no Senado, na Câmara são pessoas heterossexuais e que estão dentro de um “norma social”.

Em outras palavras:

As denominações de identidades de gêneros e orientações afetivas-sexuais dividiram a sociedade entre héteros e gays, homens e mulheres (cisgêneros).

E quem não quer ser identificado em nenhum desses “padrões”, como fica?

Os estudos queer estão questionando toda essa forma de normalitização de uma pessoa. E essa indagação não é restrita só a um grupo e/ou uma minoria, mas sim atingindo a todos, todas e todes que se ‘encaixam’ dentro de um padrão social.

Hoje, existem NNN identificações de gêneros (citarei algumas delas no próximo texto sobre esse assunto) e cada um sabe que somos olhados socialmente, principalmente nas questões de direitos e saúde, a partir de nossa autoidentificação.

Portanto a cisgeneridade (termo para definir pessoas cisgêneras) é um reforço de divisões, contra a violência de pessoas que, muitas vezes, não serão classificadas como cis.

Pelo estudo queer, a normalidade não precisa de um conceito, não tem uma definição, não precisa de um gênero.

Em outras palavras:

Os estudos queer leva para um detalhe: você busca a identificação de gênero para se entender no mundo, para estar “dentro de uma caixinha”. Mas será realmente que precisamos dessa caixa? Ou o padrão seria não ter caixa e deixar as pessoas se identificarem como quiserem?

Entende que o questionamento queer muda toda a lógica de pensamento social, que, ao meu ver, é algo incrível: poder nos questionar sobre, até então, “o que é certo” e o que é “aceitável socialmente”.

E tem outra, os estudos queer acabam se conectando com o conceito do “ser queer”, que é, justamente romper um padrão e criar uma nova forma de identidade perante o mundo.

E um outro questionamento que podemos ter como exemplo prático de um pensamento queer é:

  • Como fazer as pessoas se “assumirem”, perante o Estado e a sociedade, as suas relações quando os casais hoje não querem se casar?

Será que só o casamento de papel passado é a única forma de falar para a sociedade que temos um relacionamento formal?

Mais um questionamento:

  • E quantos casais não querem constituírem uma “família tradicional”? E
    quem nunca vai se casar? E quem vê o casamento com um processo de
    adestramento e normatização social?

Essas pessoas, de uma certa forma, estão fora da norma, de alguma maneira “socialmente aceita”, né… Como ficam os seus direitos? E as suas relações?

Se somos todos iguais, como seres humanos, como gostam de dizer, porque só algumas pessoas têm os seus direitos reconhecimentos e validados pelo Estado e outras não? Só porque elas não se encaixam na “norma imposta”? Será que isso é realmente o conceito de ser justo com todes, todas e todos?

Agora, a teoria queer tem uma outra crítica também interessante que precisamos entender:

Como a Teoria Queer Apresenta uma Pequena Crítica à Rebelião de Stonewall

Rebelião de Stonewall

A Rebelião de Stonewall não conseguiu destruir o armário porque faz com que as pessoas LGBT+ ainda tenham que negociar, o tempo todo, a visibilidade e a aceitação dos seus desejos e da sua vida íntima.

E isso também se estende para a questão do gênero.

O direito de se casar é maravilhoso, mas ele é impositivo.

Afinal, você “tem” que se casar com alguém, hoje, na sociedade para ter algum direito.

Hoje, esse direito é a favor dos LGBTs, mas e quem não faz parte de nenhuma dessas letras.

Portanto avançar nessa questão é pensar em novas estratégias e formas de se viver no mundo a partir de identificações e formas de relações estabelecidas pelo indivíduo e não pelo Estado.

Então a luta / estudo queer leva a visibilidade contra qualquer tipo de discriminação, na qual todas as pessoas podem fazer parte, seja o corpo que ela tiver, orientação afetiva-sexual e/ou de gênero.

Além disso, quem faz parte do movimento queer sempre está pensando além das suas identidades pessoais, o que é maravilhoso.

Ao meu ver, as lutas que o movimento queer encabeçam são mega importantes porque são mais democráticas, pois abrem debates para maiores números de participantes do que aquelas estratégias e focos que jogam luz em demandas X, Y e Z.

Essa série sobre diversidade de gênero, ainda precisa tocar nos seguintes temas:

  • Algumas identidades de gênero
  • Expressão de Gênero
  • Orientação afetivas-sexuais
  • Corpo, sexo e genital

Então acompanhe os próximos textos.

Caso você queria aprender sobre tudo isso agora, conheça meu dicionário LGBTQIAP+, recomendo clicar nesse clique.

Até o próximo conteúdo.

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