O Guia Completo para Você Implantar a Diversidade na Empresa

“Agora, é tudo em prol dos gays, dos negros, das mulheres.
 Ser homem, hétero e branco, nesse país, hoje, é errado.”

Não sei dizer quantas vezes eu já li essa frase nas redes sociais.

Aliás, não só ela, mas infinitas variações da mesma.

Ela representa o porquê (talvez) estejamos vivendo em uma das épocas mais conservadoras da nossa sociedade.

Por outro lado, nunca na história desse país… Nunca houveram (finalmente!) tantas iniciativas em prol da diversidade e, principalmente, dentro das empresas.

Esse texto tem o intuito de:

• Mostrar a importância da diversidade dentro da empresa hoje;
• Entendermos o porquê ignorar a diversidade é um dos piores erros que você poderá fazer;
• Como você pode valorizar a diversidade na sua empresa.

Vamos lá!

A Importância da Diversidade na Empresa Hoje

O universo é o resultado direto da ação do homem. Isso é óbvio e claro.

E quando digo ação, leia-se aqui, trabalho.

É pelo trabalho que o homem desenvolve suas habilidades, adapta às suas necessidades e altera a sua essência.

É pelo trabalho que estabelecemos relações com o outro, o reconhecendo como humano igual a mim.

Logo podemos adjetivar, dentro desse contexto, que a diversidade, segundo os direitos humanos, pode ser interpretada como:

Princípio constitucional, no qual somos tratados e tratadas como iguais, mesmo tendo as nossas diferenças que nos tornam protagonistas de nossas identidades.

Portanto, é com a diversidade, principalmente no trabalho, que reconhecemos o outro como ser humano, igual a mim, mesmo tendo uma variedade de dimensões.

E a cultura de uma empresa que tanto se fala, fazer parte de um projeto diverso que tem uma ação consciente no mundo.

Ao nos vermos como humanos com essa ação consciente, jogamos fora a possibilidade de sermos um robô.

Mas sabe que ainda podemos ser?

É sério…

E é aí que começamos a viver no automático, em um processo de alienação total.

Você perde a sensação de realização, de impactar o mundo, fazer a diferença e dá lugar para “não vejo a hora de terminar isso logo”.

Queremos na verdade, cada vez mais, dia após dia, sermos autores das nossas vidas, reconhecendo que o nosso lado diferente impacta e agrega para as pessoas, não é?

Como diz Mario Sergio Cortella, no seu livro “Por que fazemos o que fazemos?”:

Uma vida com propósito é aquela em que eu sou autor da minha própria vida. Eu sou alguém que está vivendo.

E para falar em vida com propósito aqui, encaixaremos desde a vida de uma pessoa até “a vida” de uma empresa, afinal todos estão vivendo em prol de serem autores de suas próprias histórias.

É pela nossa autoria, pela nossa diferença, pela nossa essência que contribuímos para a criação de uma realidade justa e igualitária.

O seu Maior Erro em Diversidade em uma Empresa

Você já ouviu a seguinte frase:

• Diversidade na Empresa = Criatividade e Inovação.

Se não teve contato com essa frase ainda, deixe-me falar de novo:

• Diversidade na Empresa = Criatividade e Inovação.

O fato é que o papa da diversidade e da cultura empresarial David Livermore, autor do livro, Driven by Difference também disse o seguinte:

• “Diversidade por si só não garante a inovação”.

Simples assim.

Ok, se ele disse isso, então…

Posso ignorar a diversidade na minha empresa, belezinha?

Peralá…. Vamos conversar!

O que ele estava dizendo e pego gancho no subcapítulo acima é:

A diversidade em uma empresa precisa estar conectada com valores e propósitos claros.

Ela precisa ser adaptada às mudanças para promover um diálogo entre todas as partes.

Promovê-la por promovê-la não tem o menor sentido.

Ao encontrar o propósito para essa mudança, você irá colocar as pessoas em uma condição de “servir”, ou seja, a diversidade será uma consequência de estar conectado / conectada com uma causa que realmente faz sentido para a maioria das pessoas.

Assim criará um rede interna de colaboração, que estimula a ética comportamental e valoriza o outro.

Não é para você entrar na moda porque todo empresa agora, por exemplo, tem um comitê de diversidade que a sua também terá que ter.

→ Abriremos um parêntese para algo muito importante:

Diversidade NÃO é moda, não é algo passageiro e não veio do nada e, muito menos, não acabará. 

A partir do momento em que, por exemplo, a comunidade LGBTQIAPN+ começou a lutar pelos seus direitos, lá nos anos 70 e 80, a diversidade saiu literalmente do armário (isso é, se algum dia ela esteve).

Um grande erro que podemos apontar aqui é que a falta de conscientização interna sobre o porquê que se deve promover a diversidade.

E outra coisa importante:

→ Promover a diversidade não é colocar brancos, héteros versus gays, negros na sua empresa porque…

• Diversidade NÃO é preenchimento de cotas.

Promover a diversidade é criar cooperação, confiança, solidariedade, acolhida e convivência entre as pessoas.

• Diversidade NÃO é fazer das pessoas cases de marketing.

Nesse caso, recomendo que realmente ignore a implantação da diversidade na sua empresa e contrate um profissional de marketing (como alguém que também trabalha nessa área, posso te indicar alguém para te ajudar com essa necessidade).

Afinal aqui, me parece, que o seu foco primordial, antes de tudo, está em vender, não é?

Ok, nada contra.

Cada um com as suas necessidades, porém, diversidade como ferramenta de marketing é a pior estratégia que você pode usar.

É como se você quisesse usar um fósforo para promover uma queima de fogos no céu. O que eu quero dizer é que a diversidade PODE ser uma estratégia de marketing, mas sua real função nunca será essa. E tem mais:

Isso irá acontecer a longo prazo, tá?

E não do dia para noite.

O marketing é a consequência de um trabalho incrível de diversidade e não o contrário.

É por essas faltas de propósitos que vemos 2 erros grotescos aqui:

1º) – Empresas querendo implantar a diversidade, então…

• Vamos contratar um gay, mas desde que ele não “seja uma mulher”;
• Vamos contratar uma pessoa com deficiência, mas desde que ela nem pareça alguém com deficiência;
• Vamos contratar uma negra, mas desde que ela alise o seu cabelo;
• Vamos contratar uma pessoa trans, mas desde que ela não pareça ser trans;
• Vamos contratar uma bissexual, mas desde que ela não fale sobre essa sua “dúvida”;
• Vamos contratar um refugiado, mas desde que ele não pareça que veio do Haiti;
• Vamos contratar uma lésbica, mas desde que ela não “seja um homem”.

O que realmente vemos aqui é o grau absurdo de preconceito maquiado pela boa vontade de implantar a diversidade.

Agora, conecta a tudo isso com o marketing e você tem a bomba atômica do oportunismo pronta para ser explodida.

E é por isso que teremos….

2º) – Os posts errados de empresas que claramente pegaram onda na diversidade…

Pensando em ser uma ferramenta inovadora de se fazer marketing, mas… e, claro, ganhar alguns likes e comentários nas suas redes sociais.

E assim criam um conteúdo tenebroso, em um dia especial qualquer, sem se preocupar em escrever correto, com as palavras certas para representar cada minoria.

Aqui, há os erros de falta de contexto, falta de pesquisa, falta de imagem para representar adequadamente as pessoas.

Falta tudo:

Estudo, competência, referência, criatividade, inovação e até uma simples busca no Google.

Resumindo e fechando esse parênteses (longo):

→ Promova a diversidade na empresa para conectar a sua missão, os seus valores, o seu propósito com a criação de um ambiente em que as pessoas se sintam seguras e libertas para elas serem elas mesmas;

→ Promova a diversidade na empresa para criar laços de afetividade, solidariedade e acolhida entre uns com os outros;

→ E promova a diversidade na empresa para ajudar na única condição que todos nós estamos sempre em busca:

A nossa necessidade de sobrevivência em um meio. 

Sobreviver para compartilhar com os outros nossos momentos, nossas conquistas e a nossa vida.

Como diz um provérbio português:

“Quem vive para si, pouco vive”.

Bem, alguns insights sobre a valorização da diversidade, já estão acima.

Porém gostaria de dar algumas dicas práticas para quem realmente quer colocar a mão na massa.

Mesmo a gente tendo alguns livros que falam sobre diversidade na empresa, não há um manual (politicamente correto) de como implantar ou fazer a valorização da diversidade.

Então, a verdade mais nua e crua é:

Muita coisa acontecerá no dia a dia e, muitas vezes, quando você menos esperar.

O que venho aprendendo com os meus e minhas amigos e amigas que trabalham com recursos humanos é uma “lei” simples e básica:

→ Esteja aberto e tenha humildade para consertar os imprevistos que irão surgir no seu caminho.

Afinal, “no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”, já diz Carlos Drummond de Andrade.

E…

Antes de melhorar… Piora!

É piora, mas passa, tá!

Ou seja, durante a implantação da política de diversidade muita coisa precisará ser mudada (esteja disposto ou disposta a desistir das ideias), outras vão surgir do nada e, algumas, com certeza serão melhoradas.

Logo nessa etapa, o importante é paciência, humildade, abertura, educação e foco. Além disso, conecte com as pessoas.

Cada vez mais, acredito que não fazemos nada sozinhos e sozinhas, principalmente quando se trata de promover um ambiente diverso – abaixo, explico como você pode ir em busca de ajuda para isso.

Agora, não adianta nada disso ser feito, se você não sabe qual é o problema que está acontecendo, não é?

Nesse caso, temos que ter a colaboração de duas partes e é aqui que entra aquela ajuda esperta:

1º | Gestores e Líderes:

Vocês precisam criar reuniões para discutir o tema, resolver problemas e encontrar novas soluções para os impasses diários.

Ah, é importante também:

• Não deixarem de frequentar eventos da área;
• Fazerem cursos;
• Acompanharem profissionais nas redes sociais;
• Irem atrás de empresas modelos para serem referências de benchmarking;
• Lerem, lerem muito;
• E, o mais importante: estar em contato com as pessoas diversas.

É para trabalhar em prol da diversidade, logo trabalhe 100% mesmo.

Dedique-se!

Vá em busca de ferramentas, pessoas e informações para te ajudarem no processo de implementação – se necessário, contrate um ou uma consultor ou consultora.

Só lembre-se de ir atrás de um profissional que tenha credenciais para realizar tal atividade, afinal no mercado, infelizmente, há uma galera que anda enganando bem como “consultor de diversidade”.

2º | Colaboradores e Colaboradoras

Você como uma pessoa que está disposta a ajudar no processo de implantação e valorização da diversidade, deve sim apontr o que não está legal no projeto.

Isso é importante porque você tem experiência dentro do seu universo / minoria e, claro, a empresa precisa de todo apoio, força e puxada de orelha, se necessário, agora.

“Tá louca, Maira? Eu vou falar e vou ser demitida / demitido!”.

Se for demitida / demitido, você sabe que:

• A sua empresa não aceita críticas;
• O programa de diversidade era uma fachada porque não há uma empresa que não aceite ouvir você enquanto estiver implantando a diversidade, principalmente se for algo para melhorar todo esse movimento que ela está fazendo;
• Já era para você ser demitida ou demitido, isso só foi uma desculpa para realizarem tal atitude.

Espero que você consiga tirar alguns insights e direcionamento para implantar a diversidade na sua empresa.