Não importa a área de atuação da sua empresa, o que você vai ler nesse texto sobre a inclusão nas empresas vai afetá-la. Afeta também, o bem-estar e a prosperidade de todos nós e todas as gerações futuras LGBT+.
É provável que você sabe de uma triste constatação:<
O Brasil é o país que mais mata pessoas LGBT+ do mundo – afirmação apontada desde 2017, a partir de várias pesquisas realizadas pelo Grupo Gay da Bahia.
Você já sentiu que teve que mentir no trabalho sobre quem é só para ser aceito / aceita pelo seus colegas e/ou para não ser demitido / demitida?
Eu já!
E não foram poucas vezes e, muito menos, em uma só empresa.
Ninguém nunca dirá que essa é uma sensação agradável e, muito menos, que é gostoso mentir sobre quem você é. Porém, é algo essencial, principalmente quando você depende da renda originada desse trabalho para, literalmente, pagar comida, aluguel e estudo.
Acredite em mim:
Eu sei como as situações de autoinvisibilidade refletem no nosso trabalho, sei que não são nem um pouco divertidas quando temos que fazer tudo isso conscientemente.
Ao contrário, dói… É pesado, é desgastante, é frustrante e o pior: nos fazem manter mentiras e mentiras que poderiam ser evitadas.
Como Mudar Tudo Isso: A Gestão Estratégica em Diversidade e Inclusão
O que aprendi que mudar tudo isso depende muito mais das atitudes de quem está propondo ações de diversidade e inclusão do que do budget que a sua empresa liberará ou não para você investir nesses programas. Mas sim, uma questão de gestão estratégica em diversidade e inclusão.
É claro que, a longo prazo, você não só precisará de um orçamento como apoio do seu líder sobre o seu programa de diversidade LGBT+. Contudo, o maior perigo que eu vejo hoje é que estamos de um lado, morrendo, e do outro, tendo empresa que não levam a diversidade e inclusão como negócio. Afinal…
- Na frente do seu cliente você tolera piadinhas?
- Na frente do seu cliente, você esquece dos valores da sua empresa?
- Na frente do seu cliente, você mente sobre você é?
- Na frente do seu cliente, você deixa de lado os indicadores da sua companhia?
- Na frente do seu cliente, você diz que após ele ter apontado alguma situação de incômoda é MIMIMI dele?
Quem faz a gestão da diversidade sabe como agir em cada uma dessas situações. Agora, você ouviu muito sobre empresas que estão fazendo acontecer, que implantaram isso e aquilo… Daí, você olha para a sua e pensa:
- Nunca chegaremos a desenvolver isso, não com a nossa estrutura hoje? Ou ainda…
- Precisaremos mudar tudo, remodelar as estruturas, trazer X ou Y consultor para nos ajudar, não é?
O que talvez você ainda não esteja atento / atenta que o maior perigo, hoje, na sua empresa é ficar parado e estagnado, tentando remodificar e lutar contra um sistema que não está preparado para entender sobre diversidade e inclusão.
O fato do seu concorrente estar em X nível de diversidade e vocês ainda não estão naquele patamar não deve ser motivo para você se questionar dessa forma.
Pera, Maira… Então você está falando que não precisamos mudar? E que o sistema nosso, já que está difícil de mudar, podemos continuar assim?
Não é isso. Estou falando que qualquer mudança empresarial deve ser conectada com a cultura de vocês e isso leva tempo. Isso, sim, é desenvolver políticas de diversidade e inclusão com integridade. Claro, você precisa reconhecer que o seu sistema está estagnado, que a mudança será difícil, mas não impossível.
Estou dizendo que, muitas vezes, não investir em marketing para investir em um estudo que mapeará a diversidade internamente vale muito mais a pena do que divulgar o que fazem. Exemplificando o que eu estou dizendo:
Sabemos que essa empresa trabalha com a diversidade LGBT+ internamente. E estipular metas é saber mapear as suas ações de diversidade. Porém, TODA empresa faz isso, sendo que algumas as divulgam (como na manchete acima), enquanto outras não.
Isso não é nenhuma novidade. A meu ver, é só uma estratégia de marketing errada de uma empresa quer se posicionar como diversa. O correto seria trazer um real estudo sobre as suas ações. Ou seja, um conteúdo que mostrasse o seguinte:
- Estipulamos X metas;
- Fizemos W;
- Obtivemos Y resultados ao longo de Q período.
Isso, sim, iria modificar o mercado, reposicionando a empresa não só como diversa como também referência na área, gerando um baita bussiness case.
Metas por metas, como disse, todo mundo faz. O que eu quero ver são os impactos e as mudanças internas realmente acontecendo para, quem sabe, podemos chamá-la de estar se tornando diversa.
Afinal Como Se Tornar uma das Melhores Empresas em Diversidade e Inclusão no Brasil
Eu te dou um milhão de boas práticas de diversidade, muitas delas você encontra com uma pesquisa no Google. Estratégias, claro, soltas, sem uma metodologia que NUNCA fará a sua sempre se tornar uma das melhores empresas em diversidade e inclusão no Brasil.
Porém, também te dou, hoje, no mínimo, a meu ver, menos de 10 empresas que tratam a diversidade e inclusão como merece – diante do meu ponto de vista, dos meus estudos e das minhas referências. E boa parte dele nem estão patrocinando eventos de diversidade LGBT+.
Então, o que gostaria que deixar de reflexão aqui são as seguintes indagações para você levar internamente na sua companhia:
- Como tudo isso que você leu até aqui faz sentido para a minha empresa?
- Como tudo isso faz sentido para a comunidade LGBT+?
- Qual é o meio-termo entre as necessidades da comunidade LGBT+ e a da minha empresa, baseando na nossa cultura?
- Como eu posso implantar tudo isso da melhor forma possível, seja com budget envolvido ou sem ele?
- O que já fizemos até aqui que foi um sucesso e o que não foi que precisamos mudar?
- O que apostamos e que foi um erro, mas aprendemos com ele?
- Aonde queremos chegar com tudo isso – baseando em diversidade e inclusão?
Ou seja, um dos primeiros passos da implantação de um programa de diversidade é levantar as premissas que vocês vão trabalhar. E essas indagações dão algumas delas.
Dar os primeiros reais e necessários passos em relação às boas práticas de diversidade e inclusão dependem, inicialmente, de começar a fazer as perguntas certas.
Continuar dando bons passos depende de você rever essas perguntas e trazer novas.
É dessa forma que você ajuda na inclusão nas empresas de LGBT+ para se sentirem confortáveis com quem são. É também dessa forma que você consegue contornar vários erros inesperados que vão surgir no meio do caminho.
E é também dessa forma que você deixa marcas nas suas empresas e na vida das pessoas, seja ela LGBT+ ou não. E, infelizmente, a sua empresa vai fazer aquilo que a nossa sociedade e governo hoje não é capazes de realizar: entender que ser quem nós somos não é privilegiar LGBT+, mas criar espaços igualitários para todos, todas e todes. Ser LGBT+ é diversidade.
Ser LGBT+ é simplesmente ser.