fbpx

Este site usa cookies e tecnologias afins que nos ajudam a oferecer uma melhor experiência. Ao clicar no botão "Aceitar" ou continuar sua navegação você concorda com o uso de cookies.

Aceitar

Diversidade & Inclusão

Carrefour Comete o Erro Clássico ao Tentar Usar a Linguagem Neutra de Gênero

Maira Reis
Escrito por Maira Reis em 29 de outubro de 2019
4 min de leitura
Carrefour Comete o Erro Clássico ao Tentar Usar a Linguagem Neutra de Gênero
Junte-se a mais de 5.000 pessoas

Entre para nossa lista e receba conteúdos exclusivos e com prioridade

A imagem que está na capa desse texto está, em São Paulo, estampada em algumas fachadas das lojas do Carrefour, nesse ano de 2019.

Bonita e atrativa até pode ser, porém ela tem um gravíssimo erro. E não é um erro gramatical, mas sim um erro de linguagem neutra de gênero.

Antes de explicar o erro em si, quero contextualizar o que é linguagem neutra de gênero e porquê você deveria usá-la no seu dia a vida.

Afinal, o que é Linguagem Neutra de Gênero?

Gênero Neutro

A linguagem neutra de gênero é a sugestão de boas práticas para você romper o sexismo que há na linguagem, principalmente na gramática portuguesa.

Em O Segundo o Sexo, Simone de Beauvoir diz que feminino é local e o masculino é global.

Conectando tudo isso com a questão do sexismo na linguagem, podemos ver que quando vamos falar de uma forma mais abrangente, a mulher (ou, no caso, o feminino) é colocado “dentro” do homem (no masculino).

Explificando:

  • Precisa-se de médico.

Se analisar esse anúncio – assim como milhares que outros que todos os dias estão disponíveis nas redes sociais – vemos que o “padrão” é colocar a linguagem no masculino.

No caso, (o) médicO.

Mas aí você pode me falar:

  • Tá, Maira, mas o nosso português tem muitas palavras no masculino.

Sim, não só o português como o espanhol.

A minha pergunta para você é:

  • Mas isso é o correto?

Ou seja, só porque o português está no masculino não podemos usar de outras práticas em que englobam também o feminino e outras demandas de identificação das pessoas na linguagem?

E sem que para isso tenhamos que sempre colocar todo mundo no masculino?

Por que tudo tem que se voltar aos homens e as mulheres que se encaixam “dentro do padrão” deles?

E como fazemos com o universo das pessoas trans que não se identificam com essa binariedade de gênero – homem e mulher (seja transgênero ou cisgênero)?

Ao meu ver, colocar todo mundo em uma linguagem masculina acaba fazendo com que não só enfatizemos uma prática sexista como machista.

E estamos em um processo, hoje, no mundo, de não privilegiar uma pessoa em detrimento da outra, mas sim que elas estejam nos mesmo patamar reconhecendo as suas diversidades.

Mas é Tão Difícil Usar a Linguagem Neutra de Gênero no Dia a Dia

Linguagem Neutra de Gênero é Tão Difícil

Claro que é, como tudo na vida que é novo, diferente e rompe padrões.

É muito confortável para nós falar que é difícil modificar uma estrutura de linguagem por causa do nosso conforto e preguiça de aprender algo novo.

Mas se você quer viver em um mundo inclusivo e que respeita todo mundo, devemos pensar além do nosso umbigo, da nossa bolha e nos colocar em cenários desconfortáveis, mas que irão nos fazer crescer.

Além disso, é importante você se lembrar que a linguagem neutra de gênero não surgiu agora. Ela, cada vez mais, vem sendo usada por países e instituições importantes.

Por isso separei alguns exemplos onde esse tipo de prática fazer parte do dia a dia das pessoas:

  • Em 2019, a Alemanha reconheceu a pessoa intersexo, também possibilita que uma criança possa escolher a própria identidade de gênero. Dessa forma, o país reconhece 3 gêneros: homem, mulher e não-binário.
  • Em 2017, o metrô de Londres alterou a locução “Bom dia senhora, bom dia senhor” para “Bom dia a todos”, de modo a incluir a todas as pessoas que utilizam seu sistema de transporte.
  • Em 2015, o Dicionário da Academia Sueca incluiu o pronome de gênero neutro “hen” em seus materiais oficiais.
  • Na língua inglesa, grande parte das palavras são consideradas neutras. Mesmo assim, em 2015, o Dicionário Oxford registrou “Mx.” (pronuncia-se “mux” ou “mix”) que é o neutro de “Mr.” (senhor) e “Mrs.” (senhora), embora não seja uma tradução oficial.
  • Nos Estados Unidos, a Escola de Artes e Ciências da Universidade de Harvard autoriza os estudantes a se identificarem nos registros acadêmicos como homem, mulher ou transgênero, e também a escolha do pronome que desejam ser reconhecidos diante da instituição.
  • Em Harvard, é comum o uso dos pronomes “they” (“eles”) e “ze” (sem tradução para o português), como opções de um pronome de linguagem neutra.
  • É importante lembrar que, em 2015, a American Dialect Society, entidade que estuda e analisa a língua inglesa nos Estados Unidos, definiu “they”, no singular, como a palavra do ano.

Como Usar a Linguagem Neutra de Gênero no Dia a Dia

Linguagem Neutra de Gênero no Dia a Dia

Antes de dar algumas dicas de como usá-la, é importante ressaltar que a linguagem neutra de gênero pode e deve ser usada por todo mundo, ou seja, não tem restrição de gênero, idade, profissão e bagagem cultural.

As pessoas são livres para utilizarem (ou não) a alteração na linguagem oral e/ou escrita até porque, como dito anteriormente, é uma sugestão de boas práticas.

E, também como já enfatizado, a sua grande finalidade é nos fazermos comunicar de forma a não apresentar um padrão totalizante de gênero na sua linguagem, ou seja, que convide você a fugir do senso comum na linguagem – seja por intermédio das suas falas, escritas e símbolos.

Vale lembrar que a linguagem neutra de gênero é também uma ferramenta educacional e de conscientização sobre a diversidade e formas de se estar representado / representada / representade no mundo.

Bem, agora, vamos então para alguns padrões da linguagem neutra de gênero:

É recomendado usar palavras que abrangem o coletivo.

No caso do anúncio (Precisa-se de médico), você pode substituir a palavra “médicos” por “pessoas que se formaram em medicina”.

Ok, você deve me perguntar:

  • Mas, pera… Pessoas não é feminino?

Sim, mas ela também é um falso cognato que dá a ideia de coletivo.

E, por outro lado, eu, Maira, prefiro usar palavras que são femininas e quebram padrão do que usar palavras masculinas e ficar no mais com o mesmo de sempre.

Lembrando que estamos aqui para romper padrões, certo… E não para enfatizá-los novamente.

Abandone o uso do X

É aqui que vamos focar na imagem do Carrefour que abre esse texto.

Como eu disse, tem um erro nela de quem não sabe usar a linguagem neutra de gênero de forma correta. E esse erro é o bendito X escrito TODXs.

E isso é um problema porque:

  • O “X” não é acessível para as plataformas de leituras para pessoas com deficiência;
  • O “X” não é didático e de fácil compreensão, seja para leitura e/ou fala;
  • O “X” não é pronunciável;
  • O “X” não altera a linguagem para não-binária.

Então para o Carrefour usar a linguagem neutra de forma correta, ele deveria trocar o X por E.

Então esse exemplo ficaria dessa forma: TODES.

Mais fácil para ler e entender, não é? E mais fácil de pronunciar.

Fora que, novamente, não podemos usar uma prática de linguagem que é para incluir a TODES e excluindo um grupo – no caso desse exemplo, infelizmente, pessoas com deficiência seriam excluídas só pelo uso do X.

Por fim….

Existem mais de um milhão de boas práticas de linguagem neutra de gênero. Esse texto se focou em algumas para você começar a dar os primeiros passos sem estresse.

Mas, sinceramente, se você começar a usar o E no final de palavras com O e/ou trocar as palavras no masculino pelo coletivo, vai, aos poucos, entendendo e até se acostumando com a linguagem neutra de gênero no seu dia a dia.

Por isso para esse primeiro momento, recomendo se focar nessas duas alterações / boas práticas de linguagem neutra de gênero para não fazer que nem o Carrefour que até teve uma boa intensas, mas…

De boas intenções o céu está cheio.

É preciso sim estudar, reciclar e perguntar para as pessoas como devemos escrever isso ou aquilo, pois, muitas vezes, algumas coisas da nossa própria linguagem (seja de gênero neutro ou não) vem do uso do dia a dia por determinadas comunidades.

E que os publicitários da marca tenham um pouco mais de cuidado para não escorregar, de novo, no uso da linguagem neutra de gênero.

BÔNUS

Como você pode comprovar nesse texto, poucas pessoas HOJE entendem como se comunicar de modo inclusivo porque automaticamente conectam com a linguagem neutra de gênero, que pode ser difícil para algumas pessoas.

Existe uma maneira que você usar, inclusive, a linguagem neutra de gênero sem fazer o uso dos sistemas de né-linguagem (ILE, ILU, etc) e nem colocando o E, @ e X no final das palavras.

E tem mais: se você pegar os “macetes” vai pode usar esse modo de comunicação desde para escrever vagas de emprego até artigos, e-mails, etc. Ou seja, onde achar relevante e importante.

Agora: se você quer saber como usar a linguagem neutra de gênero de modo descomplicado, rápido e simples, clique no link aqui para garantir a sua cópia dessa checklist que te ajuda a escrever com a linguagem neutra de gênero.

Imagens: Google Imagens e Unplash.

Você não pode copiar o conteúdo desta página